quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Amores passageiro

     Amores passageiros, rotineiros, momentâneos, como achar conveniente o chamar. São aqueles que nos tiram o ar por alguns segundos enquanto caminham em nossa direção, nos atravessam e seguem seus caminhos para onde quer que estejam indo, e antes mesmo de podermos dizer "paralelepípedo", esquecemos completamente sua existência. Pode acontecer em uma biblioteca e você não ser capaz de pedir seu nome, na poltrona de um ônibus e ele descer em uma parada diferente da sua, na fila do supermercado e ele estar duas pessoas na sua frente, ou até mesmo em uma escada rolante,você está descendo e ele subindo, e por uma pequena fração de segundos seus olhares foram cruzados.

      Amores passageiros são aqueles que sentimos vontade de dizer: olá. Mas talvez o olá quebre a magia e acabe com todos planos que você criou em segundos na sua cabeça, sem que você o tenha degustado. O amor passageiro não precisa ser correspondido, mas ele lhe tirará o chão quando os olhos se baterem, e mais ainda quando os dois indo em uma direção oposta virarem o rosto para continuarem trocando curtos olhares perdidos. Não há necessidade de consumar o amor passageiro com um beijo, ele precisa ser esquecido para poder ser real.
     
      Eu jamais lhe darei oi, eu jamais lhe direi que um dia foi meu amor passageiro, eu não irei segurar sua mão e andar por um parque, eu não à levarei para ver o sol nascer na beira do mar, pois você foi meu amor passageiro, assim como muitas serão e eu amarei todas até que lhes perca de visão.

Árvores

                                    As árvores tem nomes
                       Eu vejo uma e ela me chama 
                                 Mas, as vezes me manda para longe.

                                                 As árvores tem olhos,
                           E eles se perdem entre suas folhas e histórias 
                 Olhos que jamais consegui ver de perto. 

    As árvores tem camadas tão profundas e misteriosas, 
                 Que em meus mais solitários dias tentei desvendar,
                                  E enquanto mais eu sabia,

                                                    Em mais árvores me perdia.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Cantando para todos, e para ninguém.


Estamos nus cobertos por um lençol, a única parte que ainda conseguimos mover são nossos pés que se acariciam. Vejo você de bruços, um leve sorriso de boca fechada faz com que suas maças do rosto pareçam enormes, seus olhos estão fechados, mas eu sinto que o colorido deles ultrapassa as pálpebras e fazem vigia a sua volta. Sempre houve curiosidade a sua volta, sempre houve uma energia que jamais irei conseguir explicar, energia que faz com que eu a cubra com o lençol velho de longas histórias, beije sua testa e me sente na cama. Você tenta murmurar algo, mas seu corpo ainda não está pronto para um dialogo, e eu acho isso fantástico, a poucos minutos éramos um, conectados por mais que simplesmente carne e desejo, e agora somos dois mudos completos, mas que com certeza não querem mais se distanciar.
Sem perceber direito estou sentado na cama com o violão sobre o colo, você está da mesma forma imóvel o seu sorriso não se desmancha, não estou apto para pensar, a cabeça está completamente vazia, dedilho algumas coisas em dó, troco pra lá menor, e quando percebo estou tocando sua musica preferida, mas qual era mesmo a letra? Sinto você levantando, mas me atenho com os olhos fechados sentindo o aço fio das cordas sobre meus dedos e a harmonia que me invade. Sinto seus braços passarem por baixo dos meus com suas mãos deslizando lentamente em minhas costelas enquanto sobem para meu peito, sinto seus seios tocarem minhas costas com toda delicadeza do mundo e seus lábios umedecerem meu pescoço. A letra da musica vai voltando lentamente enquanto murmuramos junta sua melodia, cantando para o mundo e ao mesmo tempo para ninguém, a plateia que nos observa não possui um fim, muito menos um começo, o mundo então sai de nossas costas como sempre reclamávamos, e agora está sob nossos pés, e podemos ir para onde quisermos.