terça-feira, 31 de outubro de 2017

Cantando para todos, e para ninguém.


Estamos nus cobertos por um lençol, a única parte que ainda conseguimos mover são nossos pés que se acariciam. Vejo você de bruços, um leve sorriso de boca fechada faz com que suas maças do rosto pareçam enormes, seus olhos estão fechados, mas eu sinto que o colorido deles ultrapassa as pálpebras e fazem vigia a sua volta. Sempre houve curiosidade a sua volta, sempre houve uma energia que jamais irei conseguir explicar, energia que faz com que eu a cubra com o lençol velho de longas histórias, beije sua testa e me sente na cama. Você tenta murmurar algo, mas seu corpo ainda não está pronto para um dialogo, e eu acho isso fantástico, a poucos minutos éramos um, conectados por mais que simplesmente carne e desejo, e agora somos dois mudos completos, mas que com certeza não querem mais se distanciar.
Sem perceber direito estou sentado na cama com o violão sobre o colo, você está da mesma forma imóvel o seu sorriso não se desmancha, não estou apto para pensar, a cabeça está completamente vazia, dedilho algumas coisas em dó, troco pra lá menor, e quando percebo estou tocando sua musica preferida, mas qual era mesmo a letra? Sinto você levantando, mas me atenho com os olhos fechados sentindo o aço fio das cordas sobre meus dedos e a harmonia que me invade. Sinto seus braços passarem por baixo dos meus com suas mãos deslizando lentamente em minhas costelas enquanto sobem para meu peito, sinto seus seios tocarem minhas costas com toda delicadeza do mundo e seus lábios umedecerem meu pescoço. A letra da musica vai voltando lentamente enquanto murmuramos junta sua melodia, cantando para o mundo e ao mesmo tempo para ninguém, a plateia que nos observa não possui um fim, muito menos um começo, o mundo então sai de nossas costas como sempre reclamávamos, e agora está sob nossos pés, e podemos ir para onde quisermos.