Estamos nus cobertos por um lençol,
a única parte que ainda conseguimos mover são nossos pés que se acariciam. Vejo
você de bruços, um leve sorriso de boca fechada faz com que suas maças do rosto
pareçam enormes, seus olhos estão fechados, mas eu sinto que o colorido deles
ultrapassa as pálpebras e fazem vigia a sua volta. Sempre houve curiosidade a
sua volta, sempre houve uma energia que jamais irei conseguir explicar, energia
que faz com que eu a cubra com o lençol velho de longas histórias, beije sua
testa e me sente na cama. Você tenta murmurar algo, mas seu corpo ainda não
está pronto para um dialogo, e eu acho isso fantástico, a poucos minutos éramos
um, conectados por mais que simplesmente carne e desejo, e agora somos dois
mudos completos, mas que com certeza não querem mais se distanciar.
Sem perceber direito estou sentado
na cama com o violão sobre o colo, você está da mesma forma imóvel o seu
sorriso não se desmancha, não estou apto para pensar, a cabeça está
completamente vazia, dedilho algumas coisas em dó, troco pra lá menor, e quando
percebo estou tocando sua musica preferida, mas qual era mesmo a letra? Sinto
você levantando, mas me atenho com os olhos fechados sentindo o aço fio das
cordas sobre meus dedos e a harmonia que me invade. Sinto seus braços passarem
por baixo dos meus com suas mãos deslizando lentamente em minhas costelas
enquanto sobem para meu peito, sinto seus seios tocarem minhas costas com toda
delicadeza do mundo e seus lábios umedecerem meu pescoço. A letra da musica vai
voltando lentamente enquanto murmuramos junta sua melodia, cantando para o
mundo e ao mesmo tempo para ninguém, a plateia que nos observa não possui um
fim, muito menos um começo, o mundo então sai de nossas costas como sempre reclamávamos,
e agora está sob nossos pés, e podemos ir para onde quisermos.